sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Novo ano - Necessidade e Desejos

      
      Há dois anos seguidos venho publicando a mesma mensagem de ano-novo que na verdade não deixa exatamente muitas pessoas felizes, ironicamente, pretendia falar de um possível bom ano para todos indistintamente. Se ainda alguém quiser conferir este texto você pode ler aqui. Na verdade uma boa parte de mim ainda esta mais inclinado ao velho texto, mas andei refletindo que, mesmo sabendo que o "ano novo" nada mais é do que uma mera convenção ele pode servir para nos dá a ilusão (vamos pensar que é uma boa ilusão) que é possível recomeçar, mudar. Nesses períodos é comum as pessoas prometerem aos outros e a si mesmos várias coisas que não cumprem, não porque são mentirosas inveteradas, mas porque simplesmente é comum nós "desejarmos" coisas que efetivamente não queremos ou talvez não ansiamos de verdade, mas talvez precisemos, seja porque amigos esperam algo, a família ficaria orgulhosa ou simplesmente para pagar as contas. Não são desejos, são necessidades e por mais que inventamos e se inventem mil adornos para elas, ninguém realmente deseja necessitar de algo.
      Diante disso, desejo a todos que tenham capacidade de conseguir no ano vindouro realizar essa mágica mudança que pode ser operada apenas com o avançar do calendário e que nesta mudança tenham sorte de conseguirem o que se precisa e mais que tudo, alguns desejos efetivos se realizem.
      Um grande abraço a todos! E vamos sorrir com esperança, enquanto estamos vivos há um futuro.

By- Adriano Cabral

domingo, 19 de dezembro de 2010

Dois Anos de Vida, Parabéns Blog Spensando!

     
       Parece que foi ontem ou como alguns dizem parece que foi sempre... Explico esta segunta parte: Uma das leitoras, obviamente muito gentil, diz que tem a sensação que este blog parece fazer parte da vida dela desde há muito tempo, mas não foi ontem nem sempre, hoje faz exatamente dois anos que resolvi entrar nessa aventura de me expor de todas as formas através de contos, crônicas, ensaios, análises ou simplesmente pensamentos. Já se vão 106 postagens, este ano 54. Em média temos 1200 visitas vindos de 36 países. No Brasil há leitores de 267 cidades, as dez mais estão listadas abaixo no ano de 2010:
1-Recife 2.995 22,21%
2- Sao Paulo 1.508 11,18%
3- Rio de Janeiro 1.246 9,24%
4- Belo Horizonte 1.004 7,45%
5- Salvador 693 5,14%
6- Curitiba 394 2,92%
7- Sao Bernardo 379 2,81%
8- Fortaleza 336 2,49%
9- Brasilia 296 2,20%
10- Belem 258 1,91%
      Eu agradeço de coração a gentileza e a boa vontade destas pessoas de conseguirem extrair algo interessante de meus escritos e do conteúdo exposto aqui. Desta vez não vou citar nomes, são tantas pessoas legais deixando comentários inteligentes e espetaculares, tantos leitores anônimos que simplesmente acompanham que seria injusto citar um ou dois nomes e deixar o resto de lado, por isso, meu agradecimento vai pra todos de coração.
Este ano explorei vários gêneros literários inclusive entrei na crônica política, o que era inevitável diante das eleições presidenciais. E depois de meses de política e de um texto duríssimo como A PRECE, decide "premiar" os leitores mais fiéis (que apreciam o gênero romântico) com o texto Um Amor Para Toda Vida (A novelinha do blog). Inclusive com final provavelmente aprovado pela "torcida" que se formou através dos comentários. Adorei escrever este texto e amei os comentários dos leitores, vocês realmente "construíram" o final.
Convido os leitores a votarem no melhor texto de 2010 que será escolhido dentre os dez textos mais lidos do ano. Por sinal, Idiotices que Temos que Ouvir ao Fim da Relação teve uma monstruosa leitura individual de 1500 leituras.

      Tudo acima exposto me incentiva a continuar produzindo e expondo o que o mundo traz pra mim e acho importante compartilhar. Quanto ao natal, não tenho nada a dizer a não ser a mensagem de natal do ano passado que você pode ler aqui vale a pena conferir.
Por fim, o bloguinho é feito por todos vocês, parabéns pelos dois aninhos de vida. Um grande beijo a todos!
Os dez textos mais lidos do ano de 2010 foram os listados abaixo, quem quiser conferir basta clicar no nome:

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Um Amor Para Toda Vida - Parte Final.

       
      Todas às histórias tem um fim, inclusive as de amor. Elas só duram para sempre quando o autor esquece-se de terminá-las ou talvez as finda com reticências. A minha começou a terminar há três anos quando ouvi as palavras mais terríveis proferidas pela boca de um ser humano:
- Foi um erro, tudo isso foi um erro?
-Como assim? Eu repetia completamente incrédula, era como se eu estivesse sendo enterrada por uma cadeia de montanhas. Naquele instante eu não era exatamente eu mesma.
- Um erro, não podia ter acontecido, sou um homem casado...
- Você só descobriu isso agora?
- Sou um pastor...
- Então é isso, porque não sou evangélica? Não faz isso, não diz que tudo foi um erro! Olha, se o problema for esse eu aceito ser uma. Eu aceito qualquer coisa desde que você não fique aí repetindo que tudo foi um erro.
- Não, não é isso, você é apenas uma garotinha! Sou um velho! Tudo isso foi um erro!
-Porra! Explodi em palavras e lágrimas, eu não sou uma garotinha, eu sou um ser humano que te ama desde que descobriu que é gente. Não faz isso comigo, não faz!
-Não há nada a ser feito, me perdoe se fores capaz, a culpa é toda minha, a culpa por este erro.
Corri em sua direção para abraçá-lo, ele me deteve, eu mal tinha forças para respirar. Foi com se tivesse sido espancada. Não tenho vergonha de dizer isso, fiz o que deveria fazer, eu implorei:
-Por favor, não faz isso!Me deixa chegar perto, me deixa te abraçar! Pelo amor de Deus não faz isso! Eu te amo! Ele continuava com as mãos impedindo meu abraço, faltaram-me forças para manter-me de pé, senti-me completamente destruída, caí de joelhos aos seus pés repetindo, não me deixa!
- Tudo isso foi um erro, me perdoe!
- Mas eu te amo! E eu sei que me amas! Eu senti isso várias vezes quando estiveste em meus braços, senti no teu olhar, senti na tua voz, senti na tua alma, se você me ama, porque faz isso? Pelo amor de Deus, porque você ta fazendo isso!
- Eu... Não sei. Só sei que tudo isso foi um grande erro. Ele largou-me e foi em direção a porta, não sei exatamente o que me fez saltar ficar na frente dele tentando impedi-lo de sair. Até hoje não sei se agi daquela forma movida pelo desespero da perda da minha mãe ou apenas não aceitando que tudo estava acabando ali, naquele exato momento. Ele tentava abrir a porta, eu empurrava suas mãos gigantes, ele era muito grande e forte, eu ainda pequena e frágil, mas tinha ciência que se ele cruzasse a porta não tinha mais volta. Tinha que lutar.
- Fala pra mim que você não me ama! Fala, diz isso nos meus olhos. Provavelmente quem estiver me lendo agora achar-me-á um ser um tanto patético, mas sabe, eu me orgulho de tudo que fiz, por amor.
-O amor não é suficiente! Dito isto, ele segurou firme meus braços, me pôs longe da porta e partiu. Dá pra ter uma idéia que junto com ele o melhor de mim se foi em mil pedaços.
Depois de meses, cansei de tentar entender o ininteligível, ele simplesmente voltou para esposa como se nada tivesse acontecido e ignorava qualquer tentativa minha de aproximação. A dor da perda de minha mãe juntou-se com o deprimente fim de minha história com Davi, era com um castigo divino. Os anos que se seguiram mergulhei no trabalho, estudos, concursos, qualquer coisa que ocupasse não só meu tempo, minha própria alma. Qualquer lembrança que tinha daqueles anos sonhando se converteram no ódio tão ou mais puro que o amor que sentia. Neste turbilhão de insensatez encontrei Felipe quando eu já estava estabelecida em São Paulo. Tinha quase minha idade, professor de direito e metido a escritor. Além de divertido e inteligente escrevia coisas lindíssimas para mim das formas mais inusitadas. Desde cartas, e-mails até poeminhas deixados na minha bolsa enlaçados por dois chocolates servindo como envelope ou num buquê de rosas onde cada uma vinha com uma frase que formava um poema. “Para “piorar” tinha toda paciência do mundo para suportar minha obsessão pelo trabalho e meus chiliques de “não quero ver nenhum humano na minha frente”. Decidimos morar juntos já fazia seis meses, sem dúvida ele era o homem que traria paz e equilíbrio para minha vida, alguém com quem eu sabia que definitivamente podia contar. Foi aí que pintou o convite para ir ao casamento da Mirela. Eu não queria ir por vários motivos, dentre outros que o Felipe tinha uma banca no final de semana e eu teria que ir só. Ele obviamente insistiu pra eu ir, pois dava muito valor aos laços de família. Já fazia dois anos que não tinha nenhum tipo de contato com minha cidade, mas devido à insistência resolvi viajar e passar só dois dias.
Após o casamento fui “convidada” a ir para recepção dos noivos, só podia ficar poucas horas, pois meu vôo partiria na mesma noite. Quando estava sozinha vendo a multidão na pista de dança ouvi uma voz familiar e quase meu coração pulou pela boca.

-Minha filha querida! Há quanto tempo. Dito isso recebi um longo abraço.
-Dona Adelaide, mas que grata surpresa! Esta com a família? Perguntei quase que automaticamente, a resposta fez minhas pernas tremerem.
-Sim, estou com meu filho e esposa, você precisa ver meu netinho! E foi logo me puxando, não tinha como evitá-la, segui-a como quem caminha para um cadafalso, meu ódio agora se transmudava em medo, terror em deparar-me com um casal feliz e seu olhar de esquecimento, quem foi que te iludiu acreditando que um verdadeiro amor pode ser esquecido? Ele tinha um filho, Deus! O que eu esperava afinal?
-Oi professorinha! Respirei aliviada, era Flávio com sua esposa e filho. Instintivamente olhei ao redor procurando o irmão. Flávio parecia adivinhar meus pensamentos e depois das apresentações ele me chamou para um canto.
- Você procura o Davi?
- Eu não!
-Ah que pena! Então deixa.
- Como assim? Espera, não o procurava, mas gostaria de saber como ele ta, cadê ele e sua esposa.
- Você não sabe? Faz quase três anos que ele se separou.
- Como assim?
- A vadia da ex-mulher dele apareceu grávida do Pastor Cleyton, o mesmo que ia e vinha nas missões com ela. A safada ainda teve a cara-de-pau de pedir perdão, claro meu mano não aceitou. Aquelas informações estavam realmente me deixando num misto de êxtase, tristeza, indignação e remorso. Agora tudo fazia sentido, talvez ele tenha descoberto que a esposa estava grávida e achava que o filho era dele, por isso tinha rompido comigo.
-Meu Deus! E onde ele está agora.
- No mesmo lugar de sempre, na casa da mamãe, nunca mais se relacionou com ninguém, parece que desistiu de tudo. Inclusive preferiu não vir pra festa, anda totalmente recluso.
- Que pena, Deus! Olhei o relógio faltavam duas horas para partida do meu vôo. Despedi-me da família e fui em direção a porta quando uma mão me deteve. Tomei um susto, imaginei logo que era meu destino mais uma vez me pregando uma peça, na verdade era Flávio novamente.
- Professorinha, antes que você fosse, só queria te dizer que ele me falou de você.
- Como assim?
- Ele me falou do amor que sente por você.
- Como assim? Parte de mim não queria mais ouvir, saí quase correndo, não sem antes de ouvir a voz dele gritando: Ele ainda te ama!

      Entrei no táxi sem dizer pra onde ir, ele partiu e o motorista parecia entender minha indecisão, pois ficou em silêncio. Enquanto carro seguia comecei a pensar em tudo que passara até ali, o treino de judô, o primeiro tombo, os anos da infância abundante de felicidade ouvindo às histórias e sonhando o futuro brilhante, a decepção as 14 anos, o projeto 18,  o segundo tombo, a morte de minha mãe, o reencontro, os dias mais felizes de minha vida e a humilhante separação. Os anos de agonia e solidão e finalmente Felipe, o homem perfeito, alguém que me escolheu como primeira opção, equilibrado, bonito, amoroso, ele representava o que podia chamar amor adulto, sem dúvida ele merecia o melhor que a vida pode oferecer, merecia alguém só pra ele. Por mais triste que isso possa parecer para alguns românticos de plantão, não tinha outra coisa mais sensata a fazer, como eu disse no início, toda história tem um fim.

- Direto para o aeroporto.

Uma semana se passara e os noivos tinham acabado de se beijar, a igreja estava lotada. Provavelmente foi o casamento mais lindo que vi na vida. Indubitavelmente o pastor que dirigiu a cerimônia sabia falar de amor. A igreja já estava ficando vazia, todos indo para recepção logo ao lado. O pastor olhou pra mim ao longe, curioso, ergui-me e fui aproximando-me dele.
- Linda cerimônia pastor, o senhor sabe falar de amor!
-Obrigado! Mas como você veio parar aqui?
-O Senhor acredita em astrologia?
-Não muito!
-Pois bem, meu mapa astrológico determinou que reencontraria o amor de minha vida hoje, aqui, nesta igreja, o senhor ainda duvida dos astros?
-Pensando bem, tem algo sobre astros no novo testamento e sobre uma estrela que levaria ao amor supremo. Agora penso... Talvez fosse uma Estrelinha.
-Quem sabe... Dei um largo sorriso e ofereci minha mão, Davi tomou-a e fomos caminhando para fora do templo, sentamos no banquinho de frente a um laguinho da igreja e ficamos abraçados em silêncio por um longo tempo enquanto lágrimas desciam suavemente de nossas órbitas, e por fim nos beijamos, o beijo que selou para sempre o fim e de nossas dores e o verdadeiro início de nossa história de amor que se renovou através dos anos.
      Sim, logo após o casamento da Mirela fui pra São Paulo e rompi com Felipe, ele merecia muito mais do que ter uma mulher para sempre dividida, pertencendo de fato a outro. Larguei o emprego, pus meu apartamento à venda, se fui irracional? Provavelmente alguém pode estar pensando isso. Mas talvez alguém que agora me lê entenda que nada no mundo vale mais que um amor como esse, um amor para toda vida.

E foi assim que nossa história teve fim. Será que essas histórias realmente têm fim?

By- Adriano Cabral















terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Um Amor Para Toda Vida (parte 3) - Os Sonhadores e o Despertar

      
       Toda história de amor tem um início e a minha começou com um tombo, ou melhor, com um quase tombo evitado por mim, nisso, salvei alguém de uma queda e meu mundinho perfeito definitivamente caiu. Explico, tudo aconteceu numa tarde quando estava retornando para casa de minha mãe, lá estava eu subindo as escadas quando de repente percebi que uma moça estava perdendo os sentidos, por sorte estava há dois palmos de distância, bastou um pequeno salto e consegui segurá-la nos braços. Não hesitei em levá-la para casa enquanto minha vizinha falava sem parar, sua voz só sumiu quando minha mãe apareceu e foi ela a destinatária do falatório da vizinha. Quando repousei o corpo da moça na minha antiga cama de solteiro foi que pude perceber o quanto ela era bela, aquela beleza inata que dispensa qualquer adorno ou adjetivo: Bela. Ao fixar meus olhos em sua face, inexplicavelmente tive um estremecimento seguido de uma sensação de bem-estar. De súbito esse estado de coisas foi cortado pela voz que ecoou entre lágrimas chamando pelo nome da mãe. Percebi que ela estava em choque, mas naquele instante soube quem era aquela bela moça, era a Estrelinha.
      Até aquele dia Ester era apenas a mocinha que conhecera desde que ela era uma criança e que fiz questão de manter contato através dos anos. Ela era aquele tipo de criatura que tentamos preservar por perto para lembrarmos como o mundo pode ser puro e bom. Confesso que os anos foram se devorando e ela foi desaparecendo aos poucos, sem nenhuma boa explicação até que sumiu definitivamente. Já não tinha notícias dela há quase dez anos, mas todas às vezes quando lembrava algo definitivamente bom e imaculado, lembrava da Estrelinha. Chamamos um vizinho que além de médico era bom amigo da família que lhe aplicou sedativos. Fiquei horas no silêncio daquele quarto imaginando a dor que ela deveria estar sentindo, da solidão, afinal era só ela, a mãe e avó que por àquelas horas também estava hospitalizada. Também fiquei desenhando mentalmente como teria sido a vida daquela menininha que agora se transformou nessa mulher. Uau e que mulher! Era constrangedor pensar essas coisas naquelas circunstâncias, ainda mais em se tratando de um homem bem mais velho que ela e casado. Diga-se de passagem, nem tinha certeza se ela se lembraria de mim ainda. No instante que completei o raciocínio ela acordou, parecia ainda zonza em razão dos sedativos, então pude testar sua memória chamando-a pelo antigo apelido, assim o fiz com grande pesar na face que o momento exigia. Ela desatou a chorar, aproximei-me e segurei suas mãos, as minhas lágrimas agora se misturavam com as dela, então estretei-a nos braços, foi neste instante que o mundo se despedaçou. Ao sentir o contato tão próximo do corpo dela ao meu, ao recebê-la tão entregue, tão indefesa, tão exposta em meus braços, senti algo que nenhum homem digno poderia sentir naquele momento: Desejo! Desejo dilacerante, intenso, imenso, desesperador, como se não só meu corpo, meu espírito estivesse há séculos cruzando um infinito deserto e aquela boca fosse à última fonte de vida do universo. Involuntariamente estreitei mais ainda o abraço, e ela ainda estava lá, inerte, provavelmente ainda entorpecida pela medicação e pela dor. Não pude nem quis pensar em mais nada e a beijei como um cão faminto. Em seguida ela adormeceu. Parte mim ficou aliviado, talvez ela nem se lembrasse da minha insensatez. Fiquei mortificado. Passei a noite toda a me martirizar, monstro, era a palavra mais doce que podia repetir pra mim mesmo. De manhã cedo minha mãe comunicou-me da decisão de manter Estela como hóspede nos próximos dias. Fiquei estarrecido, tal situação seria insustentável. Eu não podia mais permanecer lá, corri para o quarto que outrora fora do meu irmão mais novo e fiz as malas, tinha que imaginar uma desculpa para sair daquela maneira. Mas antes de tudo tinha que enfrentar o preço do pecado. Bate na porta, Ester permitiu meu acesso.
- Não vai de jeito nenhum!
- Nada que você disser vai me demover. Nem mesmo peço seu perdão porque nada é capaz de limpar algumas nódoas. Tenho certeza que não é de uma presença como a minha que você precisa num momento como este de sua vida. Nisto já estava abrindo a porta quando estremeci ao sentir aqueles dois bracinhos envolvendo minha cintura, voltei-me e ela beijou-me com tanta certeza que não podia acreditar no que estava acontecendo, em seguida disse-me com o sorriso mais belo do mundo: Realmente não preciso de você neste momento, precisava e preciso de você por toda minha vida. E foi aí que nos tornamos sonhadores...

E em nosso sonho em cada beijo era um verso de uma longa saga ou será épico? Em que Ester revelava-me que já me amava desde criança e seu projeto 18 (Será que eu também já não profetizava meu amor ao ocultar dela nas cartas que trocávamos informações sobre minha namorada, agora minha esposa?). E nas longas horas caminhando à noite na praia, de mãos dadas eu quem me calava encantado e com um sorriso cravado na face. Pra que falar e interromper o canto da sereia, pra que falar se a cada dez passos um beijo apaixonado e ardente se espalhava por todos os átomos de nossos corpos? Já passava dos 38 anos mas sentia-me criança nas mãos daquela mulher que despertava em mim a sede e a fome de ser livre.
       E em nosso sonho ela conseguia me desvencilhar dos grilhões da vergonha e do pejo e dar total vazão ao meu desejo. Tudo feito por amor é purificado, tudo será perdoado e nada impedirá de duas pessoas que se amam serem felizes, repetia ela sem parar. E qualquer lugar era o lugar para os amantes. Uma entrega sem limites, sem parâmetros, sem restrições, apenas acompanhados e cronometrados no ritmo ardente de nossas bocas, línguas, pernas, saliva, tendo como motor os corações. Finalmente descobri o significado da palavra prazer.

      Já fazia 13 dias que estávamos em contato contínuo, dormindo poucas horas, minha mãe completamente alheia a tudo não poderia pensar o impensável. Estávamos no morrer da tarde no parque das esculturas. O mar batia nas rochas, a lua surgia e só estávamos nós dois no mundo, era domingo, provavelmente o segundo domingo da minha vida adulta em que eu não pusera os pés na igreja, e desta vez não sentia a menor falta disso. Ela estava deitada no meu colo, amparada pelos meus braços.
-Eu também te amo!
-Porque você fala tanto isso hein Estrelinha, só pra eu dizer também?
-Não precisa!
-Não?
-Claro que não, você me disse há 17 anos que seu horóscopo havia te dito que eu era o amor da sua vida, esqueceu seu bobão?
- Ah, só isso?
- Não. E dito isto, ela começou a intercalar as frases com beijos, ora curtos, ora mais longos conforme o tom delas. Eu sei que você me ama, pelo jeito que me olha, olha não me persegue, me queima, me marca, me prende com o olhar, sei que você me ama quando sinto seu toque em completo compasso e bailando no meu e o seu se misturam, sei que você me ama porque se esse amor todo que sinto fosse só meu, não existiria amor no mundo. E quando eu estava prestes a confirmar, veio um beijo dominante, e nos amamos ali mesmo sob o teto de estrelas.
Estava tudo decidido, não havia condições nenhuma de continuar casado com Brenda. Parte de mim ainda me dizia que a amava, mas quase o todo de mim falava e gritava que era Ester a única mulher da minha vida. Se Deus escreve torto, há de escrever por linhas tortas, logo Ele está sempre certo. Ester nem precisou pedir, eu resolvi definir logo minha vida prometi pra ela fazê-lo antes da chegada da minha até então esposa. Resolvi fazer por telefone.
- Oi Davi, tenho novidades!
- Eu também, gostaria que você fosse forte!
-Espera, a minha é mais importante...Voce já sabe né?
- Mas... Fui interrompido.
-Você será papai!
-Como?
- Você será papai.
Neste exato instante a Estrelinha entrou no quarto ansiosa para saber o resultado daquela história...

Saiba o final clicando aqui
By- Adriano Cabral